sábado, 29 de novembro de 2014

Cada laranja tem a sua metade





   A vida é feita de laranjas cortadas ao meio. Uma metade aqui e outra acolá - bem longe, quase sempre...achamos nós. Na verdade eu acho que as laranjas andam todas trocadas e que perdemos algum tempo a encontrar a nossa metade. Demora, mas eu acho que a encontramos, no meio daquelas  metades de laranja todas. A outra metade da nossa laranja é aquela que é igual a nós e que ao mesmo tempo nos completa e nos faz o que é suposto: sermos uma laranja inteira, unida, forte e bonita. Acho um amor irmos fazendo sumo com as metades que não encaixam...tem mesmo que ser assim. Deitar as cascas fora e aproveitar o sumo. Quando encontrarmos a nossa metade, a certa, eu tenho a certeza que não será precisa cola super três para juntar os gomos, os caroços, o sumo...será apenas isto: duas metades perdidas que se encontram, se juntam (gomos, caroços, sumo), se bebem. Devagar, de preferência. Porque a laranja inteira deve ser bem saboreada e bem aproveitada. 

  Se encontrarem a metade da vossa laranja não deixem que alguém faça sumo dela. 


Ana Marisa 

domingo, 16 de novembro de 2014

Larajas um tanto ao quanto trocadas





     Olho para o relógio e conto os minutos que faltam para serem X horas e penso no que estará acontecer do outro lado, a essa hora. Aqui deste lado toma-se chá e come-se rosegones. Não quero pensar nas laranjas de amanhã, vivo o sumo que cada uma me dá no presente. Amargo ou não. Mas dou por mim a pensar muito em como será estar na grande capital, presa no trânsito ou toda enlatada no metro - como a outra laranja deve estar. Eu aqui pela pequena cidade safo-me bem. A pé, principalmente. E gosto de ver as laranjeiras da faculdade - coisa que não deve haver aí (laranjeiras em faculdades, claro). As laranjas estão sempre no chão, tal é o entusiasmo do sítio. Mas aqui vive-se bem. Claro que se viveria melhor se as laranjas estivessem ordenadas e juntas - essencialmente juntas. Mas é assim, fora de laranjadas, nem sempre podemos ter quem gostamos por perto. Às vezes resta-nos imaginar como seria. O quão diferente e bom seria. Às vezes até me esqueço que não íamos tomar chá nem café juntos - já que não gostas destas 2 maravilhas - mas podíamos comer bolo de laranja, com calda. Daqueles que eu faço para os momentos importantes. Sem mel...

Ana Marisa 

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Laranjada de quinta feira 13





    Ir de mala de viagem no autocarro é sempre uma tarefa complicada e muito chata. Lá entro eu, toda carregada: mochila às costas qual turista, mala de viagem atrás, chapéu de chuva, carteira, bilhete de autocarro e telemóvel na mão. O motorista arranca num piscar de olhos. Procuro rapidamente um lugar onde possa "arrumar" todas aquelas tralhas que enumerei e disfrutar do 1,60€ que paguei por meia dúzia de paragens até à Estação Nova. Uma senhora gentilmente sorri para mim e até me ajuda com a mala de viagem que, por ter rodas, quase ia viajando mais que eu no corredor do autocarro. Contou-me que ia para a Universidade Sénior e quis saber, subtilmente, se eu ia de fim de semana e em que curso andava. Entre 2 paragens lá lhe contei umas coisinhas e ela a mim e já na paragem em que ela ia sair, deseja-me imensas felicidades e faz-me sorrir de orelha a orelha. Mais tarde entra uma mãe com o filho ao colo a chorar desalmadamente e a comer tangerinas. Uma mão cheia com um bocado de tangerina já mordido e a outra com um carrinho de brincar. A tangerina devia ser amarga...a única forma que o miúdo teve de sossegar foi brincar com a campainha do autocarro. Paramos em todas as paragens....o motorista bufa, revira os olhos e até soa. Eu só me consegui rir e sorrir para o miúdo.

    Tão bom comer tangerinas e irritar os motoristas dos autocarros. Também gosto de desafiar os mal humorados.  

Ana Marisa 

domingo, 2 de novembro de 2014

Laranjas de Domingo



     Teimo comigo mesma que as metades da laranja têm que ser iguais. Que a casca tem que ter a mesma tonalidade, sem rugas, sem relevo nenhum. Crio na minha cabeça a laranja perfeita por fora e por dentro e uso essa imagem comigo mesma. Não há laranjas perfeitas...nem Anas perfeitas. Nem Manéis, nem Zés, nem Ritas. Agarro-me à ideia de ser melhor, de não desiludir, de querer sempre limar as minhas laranjas, de as pôr a brilhar, sem rugas nem relevo. E com um sumo docinho. Dá trabalho, dá lágrimas - assim como quando cortamos cebolas - e dá apertos. Dá vazio. Mas também dá coisas boas e fora do comum. Encher o coração aos outros pode ser gratificante e incrível até certo ponto. Dá-nos um carinho grande fazermos o bem pelo outro, mas também nos pode deixar sem sumo - às vezes as laranjas secam e temos que ir buscar mais à laranjeira. Ainda bem que tenho laranja no nome. 
     Gostava de ter só boas laranjas para dar a comer aos outros; Esforço-me muito para isso, mas nem sempre é possível. Modestia à parte, as minhas laranjas são sempre boas mas às vezes falta quem as descasque, quem as cuide, quem as valorize como deve ser. Assim para elas ficarem maduras e boas p'ra comer. 


Ana Marisa