quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Laranja, minha querida laranja





    Às vezes andamos com as laranjas todas trocadas...- faz parte, também. Umas vezes fazemos sumo de umas porque têm muitos caroços, porque são amargas, porque simplesmente são feias e não as queremos na nossa fruteira. Às vezes escolhemos as melhores - às vezes porque nem sempre o fazemos. Muitas vezes andamos aí com as piores laranjas que existem e nem reparamos. Ou porque são lindas por fora e amargas e com caroços por dentro, ou porque simplesmente são do supermercado da esquina - ou hipermercado...talvez as do supermercado até sejam boas.
   Bem, o que quero dizer é que nem sempre vemos as boas laranjas. Nem sempre estamos atentos a elas - elas andam por aí - e andamos com as piores nos bolsos, ou até mesmo na cabeça. É tudo uma questão de perspectiva...aprender a valorizar as laranjinhas, saber escolher, aproveitar o sumo e ser feliz. 



Ana Marisa 

domingo, 25 de janeiro de 2015

Descobri que gosto de clementinas




    Pode ler-se que sou uma totó. Tenho duas laranjeiras no quintal, uma tangerineira, uma clementineira e outra que dá tângeras (a minha mãe chama-lhes assim mas não sei bem o que são, nunca percebi). Pois eu achava que gostava mais de tangerinas e estava enganada. Também descobri, numa ida ao quintal, que as clementinas até são boas e não têm assim tantos caroços. Parecia uma miúda de cinco anos - de cesto de vime no braço, a correr para as árvores e a apanhar fruta. 
    Uma laranja daqui - Apanha a outra que essa ainda está verde, diz a mãe - outra laranja da outra árvore, passo pela figueira, pelo pessegueiro e pela pereira e apanho mais uma data de tangerinas acolá - Olha essas no chão, estão boas! Continua a minha mãe - umas clementinas mais a frente e fica o cesto cheio. 
    O sol decidiu aparecer e sentei-me no chão de cimento com a minha mãe - ela sentada no degrau, para ficar mais alta. Lambusamo-nos de tangerinas, laranjas, clementinas e tângeras enquanto ela me tentava explicar que eram todas diferentes e umas melhores que outras, no entanto devíamos estar felizes por terem caroços porque nada é perfeito, nem mesmo as laranjas. Consigo ouvir a máquina de fazer sumo da vizinha a trabalhar - ela também tem muitas laranjas. 

Deu-se uma incrível viagem ao passado. Mais para a minha mãe que para mim, aposto. 


Ana Marisa 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Laranjas ao vento




    Tinha deixado crescer o cabelo...os caracóis tinham voltado e com eles os nós - como os caroços das laranjas, que incomodam. Havia a vontade de concretizar cada sonho que tinha em mente. Sentada à beira mar - numa rocha onde já batia a àgua - comecei a descascar uma tangerina que tinha no bolso. (Encontro tudo e mais alguma coisa nos bolsos)
    Comecei a pensar no que queria, no que não queria, no que tinha e no que gostava de ter. Os cabelos, já grandes e com caracóis, esvoaçavam com a brisa do mar. Cada casca que punha no regaço era o equivalente a um pensamento: 3 filhos, uma casa perto da praia, fotografar todos os dias, perder-me no tempo e apanhar uma dor de barriga a comer laranjas (...)
    Cuspi os caroços para a areia, apanhei as cascas da tangerina e deixei-as no bolso - mais tarde espero lembrar-me que estão lá. Peguei nas minhas coisas e fui caminhar pela beira mar, a chapinhar na água - como quando era criança. Apanhei conchas, paus e penas das gaivotas. O sol já se estava a pôr, sacudi os pés, calcei os sapatos e voltei para a estação. Era hora de voltar para casa. 

Eu era uma laranja feliz todos os dias, assim.

Ana Marisa

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Laranjas aos trambolhões




    Há pessoas que andam sempre a olhar para cima, a ver o céu, a ver as laranjeiras, as chaminés das casas - não é muito bonito de se ver, agora estão pretas por causa do fumo.  Gosto dessas pessoas que têm coragem de olhar para cima porque estão sujeitas a levar com uma laranja no nariz a qualquer momento. Ou com duas, quem sabe. Ou com nenhuma... - as laranjas são tramadas - por estarem sempre tão atentas. 
    Também há pessoas que andam sempre a olhar para baixo, de nariz quase no queixo. Secalhar é para ver os sapatos das outras pessoas. Eu gosto muito de sapatos mas gosto mais de laranjas. Também gosto dessas pessoas. Elas normalmente só conseguem ver laranjas podres que já caíram com a chuva, com o vento, ou simplesmente porque caíram. Mas essas pessoas também podem ser as primeiras a apanhá-las e aproveitá-las (as pessoas que levam com elas no nariz ficam imobilizadas por uns instantes).
    Olhem e depois há aquelas pessoas como eu, que andam sempre a olhar para cima, para baixo e para o lado. Normalmente andam sempre com as laranjas aos trambolhões pelas mãos - meio palhaças do circo e tentar fazer acrobacias. Não é mau, também gosto dessas pessoas. Nem tanto ao mar nem tanto à terra, o equilíbrio entre o cima e baixo, o verde e o laranja demais. As pessoas atentas, que dão a volta à laranja. 

É tudo uma questão de perspectiva. 

Ana Marisa 

domingo, 18 de janeiro de 2015

Um amor e uma laranja




    Planeio tudo: listas, post-its, notas no computador, lembretes no telemóvel, papéis no frigorífico e no espelho. As clementinas são para o sumo, as tangerinas e as laranjas são para comer. Quando me farto faço sumo delas também. Ou um bolo, uma torta, ou mesmo compota. Planeio saboreá-las destas formas todas, mas às vezes mudo os planos.
    Quando chegar a laranja certa também planeio que a coisa saia furada. E que saia bem, que seja uma coisa feliz. Olhá-la na árvore, ainda verde, alta e intocável - quer dizer...por enquanto. Comtemplá-la com todo o amor do mundo. Esperar que fique madura, - bem laranjinha, como eu gosto - que fique grande, que tenha filhos, que seja doce e que não tenha muitos caroços. 
    Os planos vão sair furados, eu espero. Acho que vou aprender a gostar de clementinas, se assim for. Porque gostar de laranjas é isso mesmo. Aceitar se forem boas e doces ou fazer sumo com elas se forem amargas e com caroços. 

A minha metade é meio desajeitada, mas tem muitos filhos docinhos.

Ana Marisa 

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Uma mão cheia de laranjas





    Há laranjas, clementinas, tangerinas e mais umas quantas espécies que eu não faço ideia que existem. Estas estão sempre pela minha fruteira, ao pé das maçãs e das bananas, misturadas com as pêras e com os kiwis. 
   Umas são azedas, outras são doces. Umas são pequenas, outras grandes e outras médias. Há muitas assim no meu dia-a-dia. Passo a vida a tentar perceber se são laranjas, clementinas ou tangerinas. Eu cá não gosto de clementinas e acho as laranjas mais interessantes - porque têm "filhos". Quando vou na rua penso sempre "que giro, será laranja, tangerina ou clementina?" e fico nisto até desviar o olhar. Às vezes acontece passar a "vida toda" a tentar descobrir - umas vezes chego a uma conclusão, outras nem por isso. Umas vezes quero provar, outras apenas observar. Cheirar, quem sabe. 
    Gosto de laranjas mas não gosto assim tanto de cor de laranja. Gosto de ver o laranja nas laranjas e nas tangerinas, mas não em muitas mais coisas. Gosto mais de laranjas que de pessoas - e essas são bem escolhidas para a minha "fruteira". 

Para laranja, laranja e meia. 

Ana Marisa 

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Laranjas de ano novo




    Estava aqui a descascar um Ferrero Rocher, como quem descasca uma laranja, e a pensar que às vezes também me descasco. Ou me descascam. Às vezes sinto-me nua, descascada - como uma laranja prestes a ser comida. E com este frio, acreditem que me sinto mesmo nua, apesar de toda a roupa e todas as mantas que me envolvem.
    Troquei as laranjas - por momentos - e deixei-me levar pelo chá de frutos silvestres (que nem sabia bem quais eram). O quente a queimar-me as mãos fez-me pensar em todas as coisas que estavam acontecer a minha volta. Chega a uma altura em que pensamos muito nas coisas, não é? Acho que sempre fui assim. Entrei neste ano cheia de ideias e com vontade de as pôr em prática e depois ficar feliz com os resultados. Espero que este ano arrume as laranjas, direitinhas. E que a minha árvore as torne mais docinhas. Vá, só as vezes. Assim como os Ferrero Rocher.

As laranjas não têm que fazer sempre sentido, nem eu. Nem ninguém.

#JeSuisCharlie
Ana Marisa