sábado, 28 de fevereiro de 2015

Aquela casa amarela e verde rodeada de laranjeiras





    Aquela casa amarela e verde, rodeada de laranjeiras...com um quintal enorme. Aquela casa amarela e verde ao pé da casa da minha avó. Hoje voltei a olhar para ela e pensei o quanto cresci. Aquela casa amarela e verde ao pé da casa da minha avó estava mais pequena, as laranjeiras já não me pareciam tão altas, tão inalcançáveis. Conseguia ver o tronco, os ramos, as folhas e os frutos...conseguia tocar-lhes, agora. Aquela casa amarela e verde ao pé da casa da minha avó parecia-me diferente mas igual, ao mesmo tempo. Lembro-me de um cão que andava por lá, de a dona apanhar couves coração e levá-las no cesto da bicicleta, ao pé das flores. E lembro-me das laranjeiras que estão lá desde que sou pequenina. A rua da minha avó está diferente mas a casa amarela e verde continua a ter o mesmo encanto de quando eu era pequenina. Apetece-me fotografá-la para não me esquecer dela. Apetece-me fotografar as laranjeiras da casa amarela e verde ao pé da casa da minha avó. Nunca mais vi a senhora com couves coração, flores e laranjas no cesto da bicicleta. Nunca mais lá fui com a minha avó. Hoje voltei a olhar para ela e pensei o quanto cresci. 

Ana Marisa 

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Uma mala cheia de laranjas





    Ahhh, que vontade de pegar nas laranjas e partir à descoberta. A mala de viagem grande e preta, que carrega as roupas lavadas ao Domingo e as roupas sujas à Quinta-Feira, aquela que já viajou tanto e que nunca me deixou mal. Que sempre me acompanhou. Aquela que leva as laranjas podres e as laranjas boas, bonitas e maduras. Apetece-me pegar nela, vazia, ir por aí à descoberta de novas laranjas. Preciso de sumo no copo, preciso do copo cheio de sumo de laranja, preciso do copo cheio de tudo. Aqui os caminhos são os mesmos, as laranjas da faculdade são amargas, passam despercebidas aos olhos de todos - menos aos meus, desconfio. Aqui me habituei a contemplá-las e a achar que estou, por meros momentos, no campo. Aqui é belo, mas é igual todos os dias. Aqui aprendi a colher o melhor e o pior. Aqui cresço todos os dias. Mas aqui tudo é igual. A mala de viagem, grande e preta, já reclama por novos caminhos, por novas laranjas. Por novo sumo, também para ela. 
Aqui sou feliz, aqui tenho limoeiros à porta de casa e laranjeiras na faculdade. Aqui quero ficar...mas mal posso esperar por ir. 

Ana Marisa 

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Felizes são aqueles que comem laranjas





    Feliz dia das metades. Ou será das inteiras? Ou aos gomos?
Não sei bem ao certo o que será...as laranjas demoram algum tempo a ficarem boas de comer. Às vezes apanhamo-las da árvore e achamos que podemos logo comer, mas não. Às vezes é preciso aguardar uns tempos, deixar ganhar côr, forma e feitio. Às vezes achamos que esta metade é a certa, ou que é aquela acolá...experimentamos e até parecem condizer - em côr condizem sempre. Às vezes o timing é que é errado e não a laranja. Às vezes temos que aguardar uns tempos, deixar ganhar côr, forma e feitio. Às vezes. Quase todas as vezes. Parece simples falar de laranjas, falar de amor. Não é. Às vezes estamos no pomar certo, na laranjeira certa, à hora certa, no ramo exato. Às vezes achamos que não; Às vezes as folhas tapam-nos os olhos. Oh...às vezes. 
    Feliz dia catorze. Feliz dia de comer laranjas, de saborear cada gomo, cada sensação, cada pedacinho de sumo. Feliz dia de descascar as laranjas com calma, fazer o relógio parar, ficar com as mãos a cheirar bem - eu gosto do cheiro da laranja. Feliz dia catorze, dia que deve ser todos os dias. 

Vamos descascar umas tangerinas à beira mar, saborear a brisa e ser felizes.

Ana Marisa 

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Dá-me só mais um gomo





    Olho pra baixo, vejo que estás aí bem debaixo do meu nariz e que és a melhor laranja da fruteira neste momento. Penso baixinho "será que posso roubar aquela ali?". Roubo. Olho para ela, vejo-lhe os jeitos e as manias. A côr, as rugas, as manchas. Parece-me bem. São marcas do tempo - também as tenho. Depois deste namoro todo à pobre da laranja, guardo-a no bolso. Namoro-a mais um bocado. Talvez seja demais. Tiro-a do bolso, furo-a com as unhas - não é que tenha unhas grandes, mas a força de vontade de comer a laranja, ajuda. Começo a descasca-la devagar. Tenho medo, quero aproveita-la inteira, contemplá-la só mais um pouco. Ela não se importa que eu a descasque, que a dispa. Só às vezes. Devagar. Descasco mais um bocado. Não me importo de não a comer hoje. Devagar. Um gomo de cada vez - como fiz com as cascas. Um gomo à beira mar, outro ao jantar, outro na ida para a faculdade. Um hoje, outro amanhã...quem sabe. 

Não gosto das laranjas pela metade, gosto delas aos gomos.

Ana Marisa